O futuro da consolidação em Oftalmologia no Brasil: riscos, oportunidades e lições globais

Análise sintética comparativa (EUA x Brasil) e uma projeção crítica para 5 anos com foco no Brasil.

Panorama sintético

EUA (Eye care: oftalmo + optometria)

  • Consolidação madura, porém, ainda ativa: plataformas seguem fazendo roll-ups ancoradas em ASCs e especialidades de alto volume (catarata/retina). A agenda regulatória apertou (FTC/DOJ mirando “serial acquisitions”).
  • Reembolso Medicare cai ~-2,93% em 2025 (média PFS), exigindo ganhos de eficiência para sustentar múltiplos.
  • Ambulatorização segue vetor estrutural: oftalmologia figura entre as especialidades mais comuns em ASCs que faturam Medicare. medpac.gov

Brasil (Oftalmologia)

  • Tese em expansão, com plataformas regionais (ex.: Vision One; Opty) replicando playbook de integração clínica + day hospital/ASC; mercado ainda fragmentado → runway para consolidação seletiva.
  • Macrofatores mais duros que nos EUA: Selic em ~15% (custo de capital alto) e teto de reajuste ANS de 6,06% para planos individuais 2025/26 (pressão sobre margens quando VCMH cresce acima).

Síntese comparativa

  • Estágio: EUA = consolidação avançada; Brasil = fase de aceleração seletiva.
  • Fator-chave de valor: em ambos, captura de eficiência (compras, RCM, mix pagador) e ASC; no Brasil, o spread de eficiência é maior (mais assimetria operacional).
  • Riscos principais: EUA = escrutínio antitruste + compressão de PFS; Brasil = custo de capital (Selic), reajustes aquém da VCMH e execução de integração multi-praça.

Projeção crítica — Brasil (2026–2030)

Base case (mais provável)

  • Consolidação continua, porém, seletiva: foco em ativos “classe A” (pipeline cirúrgico forte, presença em convênios relevantes, possibilidade de verticalizar/expandir ASC). Taxa de rotação de deals abaixo dos EUA, mas com múltiplos resilientes para ativos com governança, compliance (ANVISA/ANS) e dados operacionais robustos.
  • Operação: ganhos de margem vêm de padronização (compras, RCM, BI), gestão de agenda cirúrgica e mix privado (lentes premium/refrativa) para aliviar pressão de reajustes.
  • Cenário macro: Selic recua lentamente a patamar ainda alto vs. histórico recente; disciplina de alavancagem e integração seguirá central.

Bull case (otimista)

  • Queda mais rápida de juros + melhoria da sinistralidade nos planos → abre janela para mais deals, inclusive cross-regionais; acelera formação de MSOs verdadeiramente nacionais e capilaridade de ASCs.
  • Tecnologia: adoção de analytics/IA em RCM e gestão de carteira melhora conversão e ticket médio sem ampliar preço tabelado.

Bear case (pessimista)

  • Persistência de Selic alta + reajustes de planos abaixo da VCMH por mais anos → compressão de margens, alongamento de processos de venda e renegociação de preço/earn-outs.
  • Risco regulatório: mudanças no Rol/ANS que limitem receitas acessórias (p.ex., regras de materiais/tecnologias) tornam a tese dependente de eficiência “hard” (custos, produtividade de sala).

Movimentos que devem separar vencedores de seguidores

  1. ASC como core: ganho de produtividade cirúrgica e padronização de insumos. (Ecoa a experiência norte-americana.)
  2. Playbook de integração: PMO de 12–24 meses com metas claras (dias de contas a receber, no-show, OTIF de compras, ocupação de salas, margem por linha).
  3. Mix e receita particular: portfólio de LIOs premium/refrativa com protocolo comercial ético e governança clínica.
  4. Governança & compliance: prontidão ANVISA/ANS, LGPD, auditorias clínicas — reduz custo de capital implícito do ativo.
  5. Dados e BI: granularidade por unidade/médico/convênio para negociar com pagadores e calibrar capacidade.

Indicadores a monitorar (triggers de tese)

  • Trajetória da Selic e spreads bancários;
  • Índice de reajuste ANS vs. VCMH;
  • Pipeline de autorizações cirúrgicas e taxa de ocupação de ASC;
  • Prazo médio de recebimento (PMR) / glosas;
  • Regulação (atualizações do Rol; fiscalização de práticas comerciais).

Conclusão Pessoal Direta

  • EUA já está em “fase 2” (eficiência + compliance), com consolidadoras maduras submetidas a maior escrutínio e PFS mais baixo — o espaço existe, mas com margens apertadas.
  • Brasil tem runway real para 5 anos, mas o custo de capital e a dinâmica de reajustes serão o metrônomo do ritmo de M&A. Quem dominar ASC + integração operacional + governança tende a capturar os melhores múltiplos e a defender margem, mesmo em ciclo macro desafiador.

Este artigo foi escrito por Enoch Jardim Loes Junior, Founder do Lifelong Learning Gestão em Oftalmologia. O conteúdo aqui apresentado reflete exclusivamente a visão pessoal do autor, construída a partir de sua experiência no ecossistema da saúde e da gestão em oftalmologia.

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