Consolidação em Oftalmologia no Brasil: entre a promessa de escala e os desafios do capital caro

Mercado brasileiro de consolidação e M&A em oftalmologia (2023–2025):

Ritmo e apetite

  • O setor de saúde segue entre os mais ativos em M&A no Brasil, mesmo com juros altos; levantamentos recentes apontam aumento de operações no 1º semestre de 2025, com saúde entre os destaques.
  • No nicho de oftalmologia, a dinâmica é de roll-ups regionais ancorados em plataformas patrocinadas por private equity, espelhando a tese que já amadureceu nos EUA (fragmentação + ganhos de escala).

Principais consolidadores e movimentos

  • Vision One (XP Private Equity): nasceu da combinação do CBV (Brasília) com o Grupo H. Olhos (SP) e vem executando aquisições em várias praças (ex.: Città – RJ; Hospital de Olhos de Sergipe; ativos no Maranhão).
  • Grupo Opty (Pátria Investimentos): ampliou presença com associações/aquisições em diversos estados (ex.: CEOP – PA; Visão Hospital de Olhos – DF; SEOPE – PE), operando com modelo associativo e padronização de back-office.

Por que a tese segue atraente

  • Mercado ainda pulverizado e com demanda estrutural (envelhecimento, catarata/retina, miopia crescente) + espaço para integrar day hospitals/centros cirúrgicos sob marcos da RDC 50/2002 (infraestrutura física de serviços de saúde).
  • Eficiência operacional (compras, RCM, TI, agenda cirúrgica) e negociação com pagadores melhoram margens pós-integração — tese vista nas plataformas líderes.

Pressões que moldam os deals

  • Juros elevados (Selic ~15% em 2025) aumentam o custo de capital e exigem disciplina de alavancagem, integração e geração de caixa.
  • Planos de saúde: teto de reajuste 6,06% para planos individuais 2025/26, enquanto a VCMH (custo médico-hospitalar) segue pressionada — compressão de margem que favorece escala.
  • Cobertura regulatória (ANS): nuances relevantes em oftalmo (ex.: laser em oftalmologia só quando previsto no Rol; LIOs com regras específicas) afetam o mix de receita e a estratégia comercial (upsell privado/particular).

Como os deals têm sido estruturados (Brasil)

  • Aquisição/associação com manutenção de médicos-sócios no equity (cash + ações da holding), integração de marca/sistemas e padronização de back-office; quando há ASC/day hospital, costuma ser pilar central do valor. Exemplos públicos: transações da Vision One e do Opty em múltiplos estados.

Sinal para os próximos 12–18 meses

  • Base case: continuidade da consolidação, porém mais seletiva (ativos com pipeline cirúrgico sólido, boa penetração em convênios e possibilidade de verticalizar o centro cirúrgico).
  • Principais riscos: custo de capital elevado (Selic), reajustes aquém da VCMH, execução de integração multi-praça, e eventuais mudanças regulatórias na saúde suplementar.

Este artigo foi escrito por Enoch Jardim Loes Junior, Founder do Lifelong Learning Gestão em Oftalmologia. O conteúdo aqui apresentado reflete exclusivamente a visão pessoal do autor, construída a partir de sua experiência no ecossistema da saúde e da gestão em oftalmologia.

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