A Central de Material e Esterilização (CME) em oftalmologia, desempenha um papel crítico na garantia da segurança dos procedimentos cirúrgicos. O processamento adequado dos instrumentais oftalmológicos, conforme estabelecido pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 15 de 15 de março de 2012, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), é fundamental para prevenir complicações pós-operatórias, como a TASS e a temida Endoftalmite, e garantir a eficácia dos procedimentos cirúrgicos. Este artigo, abordará as diretrizes para o processamento adequado desses instrumentais, a importância da esterilização e os riscos à saúde ocular quando esses protocolos não são seguidos.
Classificação dos Produtos para Saúde em Oftalmologia de acordo com a RDC n° 15, são três categorias com base no risco de infecção:
– Críticos: Instrumentos que penetram tecidos oculares ou sistema vascular (como bisturis, ponteiras, pinças e cânulas).
– Semi-críticos: Equipamentos que entram em contato com mucosas íntegras (materiais inalatórios, tais como: máscara de Udson).
– Não-críticos: Itens que entram em contato apenas com a pele íntegra.
Os instrumentais oftalmológicos são predominantemente classificados como críticos ou semi-críticos, exigindo processamento rigoroso que inclui limpeza, inspeção visual, preparo, desinfecção ou esterilização (para os materiais críticos).
Para o adequado processamento dos Instrumentais é necessário que todas as etapas sejam cumpridas, são elas:
Limpeza, consiste na primeira etapa do processamento e é definida como “remoção de sujidades (orgânicas e inorgânicas) e redução da carga microbiana”. É fundamental para remover matéria orgânica e inorgânica dos instrumentos. Deve-se utilizar um detergente adequado (alcalino, enzimático ou até mesmo o neutro, com registro de produto para saúde na ANVISA), diluído conforme orientação do fabricante. Para instrumentos oftalmológicos com lúmens estreitos, a limpeza automatizada, através do uso da lavadora ultrassônica é especialmente recomendada, pois permite a limpeza eficaz de áreas de difícil acesso. O enxague dos instrumentais deve ser feito com água purificada, de osmose reversa ou destilada.
A etapa do preparo contempla a inspeção visual, teste de funcionalidade do instrumental, embalagem e identificação do instrumental. Após a limpeza, cada instrumento deve ser inspecionado quanto à integridade e funcionalidade, através da utilização da lupa de bancada. A RDC n° 15, enfatiza a necessidade de avaliação sistemática e documentada de todas as etapas do processamento. As embalagens para esterilização, devem permitir a entrada e saída do ar e do agente esterilizante, enquanto impedem a entrada de microrganismos após o processo. Já a etiqueta de identificação do instrumental deve conter informações que permitam a rastreabilidade, tais como: identificação do material (exemplo: Caixa de Facectomia ou caixa do Dr. Carlos), nº da autoclave, ciclo de esterilização, data de esterilização, prazo máximo de utilização e responsável pelo processamento. Nessa etapa, também deve ser colocado no material um integrador químico, preferencialmente de classe 5, insumo que comprova que o material foi esterilizado adequadamente, pois reage as três variáveis da esterilização por vapor saturado sob pressão (tempo, temperatura e pressão).
A esterilização é o processo que destrói todas as formas de vida microbiana, incluindo esporos bacterianos. Na oftalmologia, onde instrumentais frequentemente penetram tecidos oculares delicados, a esterilização é não apenas recomendada, mas obrigatória para itens críticos. O método mais utilizado para esterilizar instrumentais oftalmológicos é o calor saturado sob pressão, através da utilização de autoclaves.
A esterilização adequada dos instrumentais oftalmológicos é crucial por várias razões e a prevenção de Endoftalmite é uma delas. Endoftalmite consiste na mais temida complicação oftalmológica, é a infecção intraocular grave que pode levar a perda permanente da visão. É causada devido a entrada de microrganismos no compartimento estéril do olho, durante cirurgias oftalmológicas.
Além da prevenção da Endoftalmite, a Segurança em Procedimentos Invasivos também é um fator que a esterilização impacta diretamente, exemplo: Cirurgias como catarata, vitrectomia e transplante de córnea envolvem manipulação direta de estruturas oculares internas, exigindo absoluta ausência de contaminantes. Proteção de Tecidos Delicados: O olho possui mecanismos de defesa limitados contra infecções, tornando-o particularmente vulnerável a patógenos introduzidos por instrumentos contaminados.
O não cumprimento das diretrizes da RDC n° 15 no processamento de instrumentais oftalmológicos pode resultar em: complicações Infecciosas:
(endoftalmite bacteriana ou fúngica, ceratite microbiana e infecções do segmento anterior), Síndrome Tóxica do Segmento Anterior, associada à presença de resíduos de detergentes ou desinfetantes em instrumentos mal processados e Falha Terapêutica: Contaminação microbiana compromete o sucesso do procedimento cirúrgico.
O processamento adequado dos instrumentais oftalmológicos conforme as diretrizes da RDC n° 15 é pilar fundamental para a segurança dos procedimentos cirúrgicos oculares. A esterilização eficaz previne complicações potencialmente devastadoras para a visão do paciente, enquanto falhas nesse processo podem resultar em graves consequências para a saúde ocular e qualidade de vida. A implementação rigorosa dessas normas nas CMEs de oftalmologia, associada à educação continuada da equipe e monitoramento da qualidade, é essencial para garantir os melhores resultados visuais e minimizar riscos infecciosos.
As instituições oftalmológicas devem investir em estrutura física adequada, equipamentos modernos e capacitação profissional para atender plenamente às exigências da RDC n° 15, assegurando assim a máxima segurança para seus pacientes durante procedimentos que envolvem um dos órgãos mais sensíveis e importantes do corpo humano – o olho.
Texto por Laiz Gomes Costa, enfermeira especialista em Controle de Infecção, CME e Centro Cirúrgico