Comissão de Controle de Infecção Hospitalar em Oftalmologia: Sonho ou realidade?

As Infecções Relacionadas a Assistência à Saúde constituem um problema de saúde pública em todos os segmentos da saúde, em oftalmologia não é diferente. Pesquisa feita pelo IBGE no ano de 2019, relatou que existiam no Brasil 29 milhões de idosos, com a estimativa desse número dobrar até o ano de 2043. Umas das consequências do envelhecimento são as doenças oftalmológicas. Em 2011 foram realizados 11 milhões de procedimentos oftalmológicos invasivos pelo SUS no Brasil, sendo quase 5 milhões cirúrgicas de catarata.

Embora as taxas de Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC), em Oftalmologia, serem consideravelmente baixas, os impactos que são gerados em decorrência desse fato, para os pacientes que são acometidos, são relevantes: submissão do paciente a outros procedimentos clínicos (exames complementares) e cirúrgicos, aumento do custo do tratamento, afastamento do paciente do seu convívio familiar e atividades laborais, além de dor, possíveis sequelas, maior tempo de reabilitação e alguns casos, até mesmo o óbito. Para as instituições de saúde os impactos também têm a sua importância, pois atualmente a mídia tem divulgado com mais ênfase os eventos adversos na saúde, além do risco jurídico, oriundo dos processos judiciais.

A legislação que dita as normas do Controle de Infecção no território nacional é a Portaria 2.616/98, porém, a mesma não tem uma especificidade em oftalmologia, o que pode gerar uma dificuldade para implantar a Comissão de Controle de Infecção Relacionada à Assistência Á Saúde.

A Comissão de Controle de Infecção tem o papel de assessorar a direção médica e atua diretamente na elaboração, implantação e disseminação do Programa de Controle de Infecção Hospitalar (PCIH), documento que relata as ações da comissão dentro da instituição, que são elas: elaboração do fluxo de atendimento aos casos de ISC, elaboração do fluxo de esterilização dos instrumentais cirúrgicos (englobando todas as etapas desde a limpeza até a esterilização), padronização das rotinas dos setores que são interligados com o controle de infecção (Centro Cirúrgico, Centro de Material e Esterilização, Higiene Hospitalar, Nutrição e Farmácia), monitoramento dos indicadores, visitas técnicas setoriais e a prestadores de serviços, construção de rotinas para avaliar impactos de obras e reformas nas instituições, monitoramento dos serviços terceirizados (dedetização, análise da qualidade da água e do ar condicionado e limpeza dos ductos de ar condicionado), biossegurança, capacitação dos colaboradores acerca de temas referentes à prevenção e controle de infecções e por fim, e não menos importante, avaliação e adequação da unidade com relação a higienização das mãos, pilar do controle de infecção.

O papel do profissional frente ao controle de infecção junto a unidade de saúde e aos colaboradores é de um facilitador, o mesmo, assume um papel de educador, que acaba encontrando algumas dificuldades no processo, tais como: fluxo cirúrgico dinâmico, com grande número de cirurgias num curto período de tempo, cirurgias com tempo de duração curto, instrumentais delicados e principalmente a crença limitante que esse profissional está na instituição para apontar os erros da mesma. Para isso se faz necessário uma direção médica atuante e uma liderança com maturidade, para enxergar os profissionais do controle de infecção como aliados, tanto nos processos e principalmente na segurança dos pacientes e colaboradores.

Para concluir, ter uma Comissão de Controle de Infecção Relacionada à Assistência à Saúde, vai muito além de obedecer a uma Portaria. Ter uma Comissão implantada é sinônimo de segurança no processo, que reflete na segurança do paciente e eleva a qualidade da assistência prestada. Em Oftalmologia, visto a forma de transmissão da conjuntivite e dinamismo do fluxo cirúrgico, onde as cirurgias acontecem quase sempre em grande quantidade, é imprescindível que todas as instituições tenham a sua comissão atuante.

Texto por Laiz Gomes Costa, enfermeira especialista em Controle de Infecção.

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