Duas adolescentes australianas morreram em hospitais na Tailândia após suspeita de intoxicação por metanol durante uma viagem no Laos. Elas estão entre seis turistas que relataram ter ficado doentes após consumirem bebidas alcoólicas contendo metanol no país do sudeste asiático.
Metanol versus etanol
O metanol é um álcool, assim como o etanol, que é o tipo de álcool que consumimos nas bebidas. Ambos são líquidos incolores e inflamáveis, e têm cheiro semelhante. Mas sua estrutura química é diferente: o metanol possui apenas um átomo de carbono, enquanto o etanol possui dois. Essa diferença, embora pareça pequena, é decisiva para os efeitos tóxicos do metanol.
O etanol é metabolizado no corpo humano em acetaldeído — que é tóxico, mas rapidamente convertido em acetato (também conhecido como ácido acético, presente no vinagre). Esse acetato pode ser utilizado pelo organismo para gerar energia e participar de processos metabólicos.
Já o metanol é metabolizado em formaldeído (uma substância usada em colas industriais e embalsamamento) e depois em ácido fórmico (o mesmo responsável pela dor da picada de formiga). Diferentemente do acetato benéfico, o ácido fórmico interfere nas mitocôndrias — organelas que produzem energia nas células — causando danos celulares graves.
Quando há acúmulo de ácido fórmico, pode ocorrer uma condição chamada acidose metabólica, em que o corpo fica com excesso de acidez. Os sintomas possíveis incluem náuseas, vômitos e dor abdominal. A acidose pode levar à depressão do sistema nervoso central, fazendo com que a pessoa adormeça, entre em coma ou sofra danos à retina, culminando em perda de visão. A retina é altamente rica em mitocôndrias e sensível ao seu comprometimento.
A morte não é inevitável em casos de ingestão de pequenas quantidades de metanol — intervenções rápidas podem reduzir os danos. No entanto, a lesão visual permanente pode ocorrer mesmo quando a dose não é fatal, especialmente se não houver tratamento imediato.
Como se dá o tratamento
O tratamento normalmente envolve cuidados de suporte, como intubação e ventilação mecânica, para auxiliar a respiração do paciente. Também são usados medicamentos como o fomepizol, que inibe a produção de ácido fórmico tóxico, e procedimentos como a diálise, para remover metanol e seus metabólitos do organismo.
De que modo o metanol entra em bebidas alcoólicas?
O metanol pode aparecer em bebidas alcoólicas, especialmente em bebidas com teor alcoólico elevado, como destilados, ou bebidas fermentadas de forma mais tradicional (por exemplo, vinhos de frutas). Ele pode estar presente por vários mecanismos:
· Adição deliberada e ilegal: para elevar o teor alcoólico de uma bebida de modo barato, em fraudes.
· Produção acidental: em processos tradicionais de fermentação, dependendo dos microrganismos envolvidos e dos materiais vegetais usados, pode haver geração espontânea de metanol junto com etanol, em níveis tóxicos.
Não se sabe exatamente como as adolescentes australianas foram contaminadas nesse caso específico. Mas é sempre aconselhável, ao viajar (especialmente por regiões com bebidas fermentadas tradicionais, como sudeste asiático, subcontinente indiano e partes da África), adotar precauções: consumir apenas bebidas de procedência confiável, evitar destilados desconhecidos ou artesanais e beber em locais seguros.
Beber apenas bebidas comerciais produzidas em larga escala pode ser mais seguro, embora seja compreensível o desejo de experimentar bebidas locais durante uma viagem.
Fonte: The Guardian — “What is methanol, how does it get into alcoholic drinks and why is it so dangerous?” – https://www.theguardian.com/science/2024/nov/21/what-is-methanol-how-does-it-get-into-alcoholic-drinks-and-why-is-it-so-dangerous?